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Um estrangeiro na TI

Recrutamento
 “Esse cara é fantástico. Vamos contratar!”, exclamou o supervisor da área de infraestrutura de TI para Carlinhos. 
Ocupava o cargo a pouco tempo, mas já tinha contratado muitos profissionais para sua equipe, inclusive o líder da equipe de redes, Carlinhos ou “Sir.” como todos chamavam devido seu estilo e classe inglesa, e acreditava que tinha um “dom” ou pelo menos tinha o “felling” para este tipo de atividade. 
Seu estilo era tentar compartilhar com seu líder mais próximo a maioria das decisões e para as contratações, isso era pré-req. 
O aval de Carlinhos veio após a entrevista técnica. Acharam que não era necessário testar os conhecimentos, pois se surpreenderam quando o candidato mostrou seu CV com pós graduação em redes, certificação Linux e Microsoft, treinamentos oficiais, ótima formação superior, ótimo papo, etc... O fato de vir de outro país procurando melhores oportunidades na carreira também motivou os dois gestores.
A reunião final para contratação foi enfática “Uma coisa a menos para se preocupar!!!! Esse é o cara!” e, inocentemente saíram satisfeitos e decididos!
 Os tempos eram difíceis, o aquecimento do mercado limitava a possibilidade de contratar um bom administrador de Sistemas Operacionais pelas faixas salariais fornecidas pela empresa. Após o OK do RH, que raramente não errava, fecharam a contratação. 

Pensaram que após uns dois ou três meses estaria adaptado ao clima e ao estilo de trabalho da companhia.
A decepção
“O que faltou??” “Como podemos errar tanto assim!!” 
Essas eram as frases ditas em uma reunião emergencial para tentar entender o que aconteceu de errado após dois meses do início das atividades do novo colaborador. 
Começaram pelo básico, o chamaram para uma reunião e tentaram entender como ele não sabia de coisas tão básicas para administração correta de uma farm de Windows Server. No desespero, perguntaram, "Você precisa de algum curso? Gostaria de um acompanhamento de um profissional com mais experiência? O que esta faltando... mais tempo para entender nosso ambiente???"
A resposta era sempre a mesma... “Eu não admito que duvidem da minha capacidade técnica. Eu sou um profissional certificado!!!” e brabo, saía da sala bravejando em sua língua de origem.
Era o começo de um martírio para Carlinhos e sua equipe! 
E assim foi, a cada semana, uma reunião, plano de ação, feedbacks formais e informais... tudo de acordo com as políticas e diretrizes do RH. Mas nada fazia efeito... Pensaram até que o fato de ser outro país com outro estilo de trabalho pudesse estar impactando seu rendimento. Mas não.... o resultado das reuniões era sempre o mesmo... Uma mistura de frustação, raiva e pessimismo!
Muito, muito tempo depois
E assim foi... No fim das contas, o camarada virou piada, lenda, encosto, deu muito trabalho para os gestores e gerou algumas das histórias e estórias mais engraçadas daquela empresa. A demissão, lógica e certa, veio somente um ano e meio depois... depois de muitos encontros com as gerencias da TI e RH.
Souberam, algum tempo depois, que dava aula sobre Redes Neurais em uma faculdade de outro estado do país....
Bom, a opinião foi unanime:
“Por isso que a educação deste país não vai para frente...”

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