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O Conto da Melancia

Sempre Assim
Sempre chegava atrasado, já tinha matado boa parte da família, feitos todos os exames possíveis, ido a quase todos os hospitais com seus filhos e parentes e mesmo assim, dia sim, dia sim, chegava atrasado.
O coordenador do projeto já não sabia mais o que fazer, entre feedbacks e cobranças, o Joacir sempre acabava com o mesmo papo. Meu filho passou mal, minha esposa brigou comigo, vou passar uns dias na casa de meu irmão.
Só não era desligado do projeto porque, além de boa praça, era um ótimo técnico.
O Ultimato
Certo dia a orientação foi explícita. “Cara, chega na hora amanhã! Por favor. Precisamos apresentrar o cronograma do projeto e você... ‘respirou’ precisa demonstrar seus pontos de atenção. É batata e rápido” lembrou com aquela paciência e elegência inglesa.
No outro dia, nada!
Lá pelas onze da manhã chegou o maldito. Rosto baixo, expressão triste e decepcionado. Na sala, todos comentaram... “Quem será que ele vai matar hoje!!!!”, “Não podia ser mais os tios, já morreram todos no último semestre” lembrava outro.
A Constatação
O coordenador, bufando e querendo dar um fim naquilo, desabafou... “Amigo, de novo!!!!! Assim não dá mais Joacir, passei vergonha na reunião... Me deixou na mão!“
“Tu não vai acreditar... virou um caminhão de melancia na estrada, bem na minha frente! Fiquei preso no transito por duas horas!”.
Ninguém na sala aguentou e a gargalhada foi geral! O pobre coitado do ‘carasco do cronograma’ deu de ombros... virou as costas e não conversou mais com Jacinto. Ligou pro seu gerente e encaminhou a alma do cidadão. “Pensa que sou palhaço”, 5 anos estudando, pós de gestão de projetos, PMP na lapela e esse cara tirando onda de mim...”
Jacinto dizia... “mas é verdade, virou um caminhão mesmo”... Mas não adiantava mais, era o fim da linha.
Final ?Feliz?
No outro dia, nem cobrou mais o jagunço, carregando um envelope pardo chamou-o para uma reunião e no momento da revelação, Jacinto tirou o jornal do dia da pasta e mostrou a foto da capa.
Lá estava um caminhão de melancia tombado no meio da avenida e ao, o velho Fiat Uno do desgarrado.
Demorou a todos acreditarem e muitos começaram a acreditar que, realmente Jacinto era um pobre coitado azarado e que sua vida era mesmo uma M.

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